A fuínha é um carnívoro de tamanho médio, comum mas difícil de observar devido aos seus hábitos nocturnos. Caçadora eclética, quem já teve a sorte de a encontrar viu a elegância tornada carnívoro. Conheça as suas características e ecologia.
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
A fuínha ou papalvo (Martes foina) é um pequeno carnívoro, com corpo alongado e cauda comprida e espessa. As patas possuem 5 dedos com garras não retrácteis, muito importantes para a aderência às árvores, visto que se trata de um animal trepador. No solo desloca-se aos saltos. Esta espécie é muito semelhante à marta (Martes martes), sendo necessária especial atenção para as distinguir. A fuínha tem pêlo castanho (mais ou menos escuro), um pouco mais acinzentado que o da marta. Possui uma mancha branca (por vezes ligeiramente amarelada) na zona da garganta e peito, que se estende pelos membros anteriores, estando subdividida na zona do peito, por uma faixa longitudinal de cor igual à do resto do corpo. Na marta esta mancha é mais pequena, de coloração amarelo alaranjada, restringe-se à região peitoral, não se estende pelos membros anteriores e não está subdividida. A fuínha possui também orelhas mais curtas e estreitas e um focinho mais curto e largo que o da marta.
O seu corpo mede entre 40 e 50 cm e a cauda entre 23 e 27cm. O seu peso varia entre 1,1 e 2,5 Kg, sendo os machos nitidamente maiores que as fêmeas.
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA
É comum em toda a Europa Continental, não ocorrendo no entanto na Escandinávia. Está também presente nalgumas ilhas do Mediterrâneo. Em Portugal parece ser comum em todo o país, sendo no entanto a sua tendência populacional desconhecida.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Faz parte do anexo III da Convenção de Berna (espécie parcialmente protegida, sujeita a regulamentação especial) e em Portugal é considerada não ameaçada (NT).
FACTORES DE AMEAÇA
Os serviços que a fuínha presta ao eliminar roedores (ratos e ratazanas) são menos visíveis e conceituados que as suas intrusões em galinheiros e roubo de ovos. Isto faz com que seja perseguida pelo Homem especialmente nas zonas de caça, onde é considerada nociva para as espécies cinegéticas. Esta noção não deixa de estar errada, uma vez que os diversos estudos feitos sobre a sua dieta mostram que as suas preferências alimentares são claramente os micromamíferos (ratos, ratazanas e musaranhos) e os frutos. Para além disto, a fragmentação e destruição do habitat e a morte por atropelamento também são um forte factor de ameaça.
HABITAT
O tipo de habitat que ocupa varia muito de região para região. Nas zonas do Norte da Europa está mais ligada a áreas habitadas pelo Homem do que no Sul. Em algumas regiões são muito comuns em vilas ou mesmo em cidades. Pensa-se que as habitações são uma substituição do meio rochoso original e que a fuínha tem seguido o Homem em direcção ao Norte acompanhando a desflorestação causada por este. Uma vez que a fuínha não está adaptada a temperaturas muito baixas, as habitações proporcionam-lhe condições térmicas favoráveis.
A ligação da fuínha a zonas mais habitadas pelo homem, verifica-se em regiões onde a marta está bem representada. Nas regiões mediterrâneas, onde esta última está ausente ou é rara, a fuínha ocupa um habitat bastante mais selvagem - zonas rochosas, montados de Quercusspp. (carvalhos) de folha perene e florestas caducifólias. No entanto, estudos recentes mostram que em Portugal, esta espécie também vive em zonas humanizadas. Os seus locais de refúgio costumam ser em árvores ocas, debaixo de rochas, em estábulos, celeiros e sotãos.
ALIMENTAÇÃO
O seu comportamento alimentar é extremamente diverso, quase omnívoro. É um predador generalista e oportunista. Consome especialmente micromamíferos, frutos e insectos, mas também se alimenta de pequenas aves, ovos e de todo o tipo de desperdícios deixados pelo Homem.
As suas capturas são consumidas quase na totalidade e o que sobra é acumulado junto ao seu refúgio, o que permite a sua subsistência em períodos em que o
REPRODUÇÃO
Costuma acasalar no meio do Verão e tal como outros mustelídeos possui o fenómeno de ovo-implantação retardada (ver ficha de texugo). A verdadeira gestação é de 30 dias e as crias (normalmente 3, mas podem chegar a 7) nascem na Primavera. Os cuidados parentais são praticados exclusivamente pela fêmea. Entre o 2º e o 3º mês, as crias começam a sair da toca, acompanhando a mãe durante 2 ou 3 semanas, fazendo deslocamentos cada vez maiores, emancipando-se assim progressivamente. Atinge a maturidade sexual entre 1 e 2 anos e em cativeiro pode viver até aos 18 anos.
MOVIMENTOS
No nosso país parece ter hábitos estritamente nocturnos, mas no Norte da Europa, durante o Inverno, em que a busca de comida é mais difícil, pode ser bastante activa durante o dia. É geralmente solitária, mas as que vivem em vilas podem andar em grupos de 4 a 5 animais. Costuma fazer longos deslocamentos quotidianos, que se repetem normalmente pelos mesmos trilhos, em busca de alimento. No nosso país as suas áreas vitais rondam em média, 3km2 para os machos e 2 km2 para as fêmeas.
CURIOSIDADES
Os seus ataques a galinheiros, levaram à crença errónea de que a fuínha mata mais do que o necessário para se alimentar, fazendo-o apenas por prazer e para sangrar as vítimas. Está cientificamente provado que o impulso de ataque e predação por parte deste animal se deve ao movimento das presas. Sendo assim, perante a concentração artificial de animais (ex: galinheiro), a excitação destes ao pressenti-las, pode provocar um comportamento exagerado de predação por parte da fuínha.clima é demasiado rigoroso.
Outra característica particular da fuínha é o facto de ser um dos poucos carnívoros próximos do homem, que consegue atacar a ratazana com sucesso (o próprio gato doméstico costuma recuar perante a ferocidade desta presa).
LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO
Devido à sua actividade quase sempre nocturna e à sua discrição, esta espécie é dificilmente observável no seu habitat natural. No entanto, em meios rurais, a sua observação não é rara, nomeadamente a atravessar estradas ou caminhos durante a noite. No que se refere aos indícios de presença, a pegada consiste numa almofada principal constituida por 5 lóbulos, na marca dos 5 dedos e num lóbulo traseiro de pequenas dimensões. Quando o substrato é mole pode observar-se também a marca das garras. Os dejectos característicos de fuínha são entrançados, torcidos, com um dos extremos pontiagudo.